quinta-feira, 6 de março de 2008

Bullying escolar - uma visão espírita

Bullying escolar - uma visão espírita

Edgard Diaz de Abreu


Todas as crianças e adolescentes têm direito a escolas onde existam alegria,amizade, solidariedade e respeito às características individuais de cada um deles. Aramis Antonio Lopes NetoNeste artigo vamos abordar uma das formas de assedio moral, o bullyingescolar, prática cada vez mais freqüente nas escolas, e que vem causandograndes transtornos nas vidas das vítimas desse processo.A prática de bullying começou a ser pesquisada há cerca de 10 anos naEuropa, quando descobriram que essa forma de violência estava por trás demuitas tentativas de suicídios de adolescentes.Não temos a pretensão de esgotar o tema, mas apenas e sobretudo lançar um pouco de luz num assunto tão importante, e alertar para esta pratica tãodesumana da nossa sociedade. Não resta dúvida que o mundo atual encontra-se enfermo, e a ética está abandonada por grande parte da população, resultando em comportamentos cuja tônica é o egoísmo. Trata-se de forma de exclusão escolar e por extensão social, perversa ecruel, já que, normalmente, colegas de escola freqüentam muitas vezes osmesmos lugares, tais como cursinhos de inglês, academias de ginástica,shopping centers, e festinhas; estando em contato certamente grande parte do dia, inclusive fora das escolas.Psicólogos têm me asseverado que o bullying tem ocorrido em vários escolasda rede particular do Rio de janeiro, estando inclusive mais presentes nasgrandes escolas, pois em escolas pequenas, fica mais difícil de realizar aprática sem chamar a atenção dos professores e da direção da escola.Lembrando a pergunta 754 de “O Livro dos Espíritos” A crueldade não derivará da carência de senso moral?“Dize – da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência,porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.”O que viria a ser o bullying escolar? Seria quando um grupo de colegas deuma mesma escola, freqüentemente da mesma turma, promove uma segregação, de forma repetitiva, tentando isolar um dos membros da turma, seja este membro rapaz ou moça, de forma que este fique isolado e sem ambiente na turma, o que gera muitas vezes na vítima, depressão, apatia, falta de motivação, baixa do rendimento escolar, falta de apetite e tendência ao isolamento (passa a não ter prazer em sair de casa ou a se relacionar com as pessoas) e vontade de trocar de escola.A motivação para essa conduta tem muitas causas, mas poderíamos relacionar algumas que nos parecem as mais freqüentes: busca de poder no grupo (necessidade de dominar), egoísmo, vaidade, sedução, insegurança,necessidade de chamar a atenção para si, segregação racial, segregação declasse social (aluno bolsista) etc.A forma de execução do bullying acontece de muitas maneiras, sendo freqüente entre os rapazes o uso da força física ou psicológica e da intimidação, e entre as moças a mentira, a fofoca, a maledicência, e a difamação; todas de forma orquestrada, ou seja, de comum acordo e planejadas pelo grupo agressor, para desacreditar a vítima, de forma progressiva, numa atitude de franca antipatia, muitas vezes ignorando a vítima nos ambientes que ela freqüenta, como se ela não existisse, levando essa vítima a um stress com os sintomas relacionados acima, demonstrando a que nível de perversão alguns adolescentes estão chegando.O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5ª a 8ª séries, das escolas públicas e privadas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de bullying.Estudos demonstraram que a média de idade de maior incidência entre osagressores, situa-se na casa dos 13 a 14 anos, estando presente entretantocom freqüência até os 19 anos. A grande maioria, ou seja, 69,3% dos jovensadmitiram não saber as razões que levam à ocorrência de bullying.Muitas vezes os colegas percebem a situação, mas por medo se omitem, pois temem ser a próxima vítima.Não resta dúvida que este tipo de conduta retrata um grande apego às coisas materiais e, por extensão, afastamento da religião de uma forma geral, ou seja, estes alunos, na sua grande maioria, não possuem crença religiosa, estando movidos na luta pelas aquisições materiais principalmente, já que desconhecem a vida espiritual. Podemos notar neste processo o que já relatamos em artigo anterior, “Desafios na educação do Adolescente” (RIE Agosto 2006), que trata da falta de limites de uma grande parte dos adolescentes atualmente. São pessoas que não têm pudor, e fazem de tudo para conquistar seus objetivos, passando por cima de tudo e de todos, achando que os fins justificam os meios.Na pergunta 755 de “O Livro dos Espíritos” Kardec interroga os espíritos :“Como pode dar-se que no seio da mais adiantada civilização, se encontremseres às vezes tão cruéis quanto os selvagens ?Do mesmo modo que numa àrvore carregada de bons frutos se encontram frutos estragados.Sã o, se quiseres, selvagens que da civilização só tem aaparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordeminferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, naexpectativa de também se adiantarem; contudo, se a prova for muito pesada, vai predominar a natureza primitiva.”Todos sabemos que a criança para o seu pleno desenvolvimento necessitasentir-se amada, valorizada, aceita, incentivada à auto-expressã o e aodiálogo, incentivada à pratica religiosa, principalmente na adolescência,porém a noção de limites precisa e deve ser estabelecida com firmeza esobretudo com coerência. Mas observa-se, na sociedade atual, crianças asquais são criadas dentro de padrões de liberalidade excessiva, sem limites,sem noções de responsabilidade, sem disciplina, sem religião e muitas vezes sem amor; estas serão aquelas com maior tendência aos comportamentos agressivos, tais como o bullying, pois foram mal acostumadas e por isso esperam que todos façam as suas vontades e atendam sempre às suas ordens.É importante observar, que num mundo com tantas mazelas como o nosso, pode ser possível que, algumas vezes, os pais desses algozes, percebam o bullying praticado pelos filhos, mas façam vista grossa, por perceberem que a prática do filho pode estar rendendo-lhe algum tipo de vantagem, o que torna o ato mais desumano ainda, pois estaria presente a conivência paterna. Tal ato poderia ser facilmente explicado pela falta de ética e educação dos referidos pais, fato tão comum nos dias atuais.Devemos ressaltar que o apoio da família, neste momento, é fundamental,entretanto é necessário ter prudência, pois num primeiro momento osentimento que predomina é o da retaliação, ou mesmo da vingança. Mas aDoutrina Espírita nos ensina que violência gera violência, ou que o ódiogera mais ódio ainda, lembrando a frase do Apóstolo Paulo de Tarso: “Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Devemos procurar os professores da turma em questão e colocar o ocorrido, de forma serena, mas com firmeza, numa tentativa de amenizar a situação, o que nem sempre é fácil, se não houver a participação de pais, professores e funcionários, em virtude dos traumas e das humilhações já vivenciadas,algumas vezes uma troca de turma numa mesma escola já pode ajudar. Podemos ainda incentivar o convívio com outros colegas, com os quais essas crianças não tinham convívio ainda, às vezes até por falta de oportunidade. Devemos ainda, caso a criança encontre-se deprimida, lançar mão da ajuda de um profissional, como um psicólogo, para ajudar na recuperação desta criança, facilitando assim sua reintegração na escola. Devemos ressaltar que trocar de escola pode não ser uma boa idéia, pois assim estaríamos dando oentendimento a criança, que toda vez que houver um problema em sua vida, é só mudar de lugar que tudo estará resolvido, ou seja, fugir do problema em vez de procurar resolvê-lo. Gostaríamos de lembrar como aprendemos na Doutrina Espírita, que nadaacontece por acaso, e sendo assim tudo na vida encerra um ensinamento e,portanto, concorre para o nosso crescimento; dentro desta visão, as criançasque sofrem esta prática de assédio moral, podem estar passando por umprocesso de aprendizado, que as impeça de se comportarem desta forma com os outros no futuro, e ao mesmo tempo, podem estar sendo incentivadas à humildade (do latim HUMUS = terra fértil para a colheita) e a solidariedade, práticas das quais poderiam estar se afastando lentamente, em razão do mundo atual mostrar-se muito egoísta, cruel e algumas vezes prepotente, onde a imoralidade e a falta de ética, são coisas corriqueiras, assunto por nós já mais detalhado no artigo “A ética e o mundo atual” (RIE Agosto 2007).Lidar com as adversidades da vida requer vontade, fé, serenidade e coragem(cor = coração), lembrando ainda que: “ A vontade é a mola do mundo, mas o amor é a manivela”, e relembrando Joanna de Ângelis “ Só o amor transforma conhecimento em sabedoria”.E, para encerrar, como espíritas devemos estar sempre atentos para os atosde nossos filhos, para que não façam aos outros, o que não gostariam quelhes fizessem. Podemos nos basear no exemplo de Eurípedes Barsanulfo que, em sua escola Espírita em Sacramento, a primeira do Brasil, no início do século XX, dizia que não se satisfazia em criar cidadãos para a sociedade, mas que procurava criar filhos de Deus. A explicação é simples: filhos de Deus respeitam tudo que é criação de Deus, são, portanto, éticos e ecologicamente corretos, pois são incapazes de destruir o que Deus criou, respeitando assim a natureza e os seus semelhantes.

Bibliografia:
1 – http://www.bullying .com.br/
2 - http://www.abrapia. org.br/ (site da Associação BrasileiraMultiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência) .
3 – “O Livro dos Espíritos”, Allan kardec, perg. 754 e 755,